Do giz às redes sociais...

No final da década de 1980 um grupo de alunos do Liceu do Ceará deu início a uma turma que em pouco tempo se transformou em uma rede de amigos. Essa rede vem se mantendo por mais de duas décadas.

No último dia 14 de janeiro, aconteceu, nas escadarias do Liceu, o 4º encontro, com direito a muitas fotos (coisa que naquela época não era de tão fácil acesso como hoje), muitas recordações e confirmações de acontecidos que, por muitas vezes, foram consideradas apenas “histórias liceístas”.

A segunda metade daquela década, e especificamente seus últimos anos, foram marcados por acontecimentos históricos para o Brasil e o mundo. Para citar alguns, posso lembrar Tancredo Neves que morreu em 1985 sem ter tomado posse e foi sucedido por José Sarney; panelaços; planos Sarney I e II e Odete Roitman – a grande vilã. 1989 foi o ano da queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética e do comunismo; da morte de três mil manifestantes na Praça Celestial da Paz, em Pequim; do Prêmio Nobel da Paz concedido ao Dalai Lama; e da posse, na presidência dos Estados Unidos, do primeiro George Bush. Mas, nenhum outro fato foi mais relevante para os brasileiros do que a primeira eleição por voto direto para presidente da República depois de anos de ditadura. A eleição de 1989 foi disputada por 22 candidatos. Lula e Collor se enfrentaram no segundo turno. Collor venceu. Já faz mais de 20 anos...

Em 1990 o então diretor do Liceu foi convidado a se retirar não só da diretoria, mas também do colégio, por alunos e professores e foi neste ano que se fundamentou este grupo que por laços de amizade se mantém até hoje.

Este grupo foi tecendo sua rede entre outros grupos (o “pessoal” do vôlei, do futebol de salão, do Conjunto Ceará, da capoeira, do skate, do movimento estudantil liceístas...) de todos os três turnos. Hoje muitos nunca estudaram nem no mesmo turno, mas se conhecem há anos.

Passamos nessas duas décadas, por outras transformações nas esferas mundial, nacional e, obviamente, pessoal. Porém, mantendo o contato e imprimindo nossos pontos de vista, sempre costurando um entendimento das diversas leituras dos acontecimentos, principalmente políticos.

Hoje, adultos, profissionais, pais e mães de família, trazemos aos nossos encontros a mesma alegria que nos mantém unidos (mesmo que distante), mas cada vez com mais maturidade. Somos profissionais em várias áreas, funcionários públicos, policiais, professores, gestores ou proprietários de empresas que tem orgulho em dizer que é liceista (pois em nosso entendimento quem estudou no Liceu do Ceará nunca deixa de ser liceísta).

Em época de pouco tempo, muita correria e redes sociais (telefones celulares, máquinas fotográficas digitais e tablets) fazemos uso do que podemos para nos comunicar e elaborarmos nossos encontros. Estes encontros são como pílulas de energia, são como fontes da juventude, nos levam a um amadurecimento mais feliz. São como uma fenda temporal em que somos arrebatados a um período longe dos politicamente corretos de hoje e que as brincadeiras e piadas ainda eram para divertir e fazer rir e nunca para ferir ou humilhar. Alguns levam seus filhos para que, como forma de legado, vivenciem a importância de amizades saudáveis e duradouras.

Para as turmas de hoje dizemos: isto que “vc” (alusão às abreviações online) vê sob nossos ombros, este branco em nossos cabelos não é poeira e nem teia de aranha, mas resquícios de giz. Certo mesmo é que nunca deixamos as teias de aranha ou a poeira tomar conta de nossas cabeças e que mesmo com giz escrevemos nossa história.

Nestes encontros cada participante traz consigo um pouco da história do Liceu do Ceará e assim colabora para manter viva a história de um colégio que se confunde com a própria história do Ceará, com a nossa história.

Ano que vem tem mais...

 Por João Lopes em 28 de fevereiro de 2012