FILHO

Oi filho, quero que saiba que durante a minha vida tive muitos amigos, alguns bons amigos (irmãos mesmos) e junto com eles tive muitas emoções, foram alegrias, paixões, desilusões, e raivas. Tive a felicidade de ter nascido em uma família onde havia muito respeito e se falava abertamente sobre tudo (sempre ouvindo muito Chico Buarque), aprendi a respeitar para ser respeitado, tive a felicidade de na minha adolescência ter participado de uma turma que era formada por pessoas boas e nela tive a emoção das primeiras paixões e desilusões amorosas ao som de Legião Urbana. Tive a emoção de participar politicamente do movimento estudantil aqui no Ceará e no movimento estudantil tive as primeiras decepções da vida quanto às pessoas. Sempre ouvindo Legião e Chico. Viajei muito, e nas viagens conheci muitas pessoas, e entre elas fiz boas amizades e também tive muitas paixões. Tive a emoção de conhecer meu pai biológico com 20 anos de idade, fiquei muito feliz com o meu primeiro emprego de carteira assinada. Foi desafiante sair de casa para morar só. Onde por algumas vezes passei fome. Vibrei com a primeira vez que vi a nossa seleção vencer uma copa do mundo. Curti, e muito, o melhor carnaval de minha vida. Apaixonei-me perdidamente pela pessoa errada. Sofri muito a morte do melhor amigo, e do meu maior ídolo (Renato Russo). Fiz novos amigos e tive muitas alegrias. Sofri, com a possibilidade de perder meu avô (a quem chamo de pai). Morei só, por muitos anos e fui mais, muito mais feliz que triste neste período... e melhor, aprendi muito! Isto tudo, todas estas experiências que tive em meus 32 anos de idade, resumidos e tomados como uma pílula para que a mesma se dissolvesse de uma só vez dentro de mim não se comparariam com a emoção que foi te ter nos braços pela primeira vez. Filho! Tudo e todos se tornam tão pequenos! a emoção tem proporções inenarráveis, um turbilhão de emoções, alegria pela sua vinda, emoção pela situação de continuação, preocupação com o futuro, com a possibilidade de falhar na sua criação e formação, medo, pois sua mãe no momento não estava conosco por problemas no parto. Meu amor, um verdadeiro amor, que só senti na vida com a sua chegada. Um amor tenro, puro e envolvente, um amor diferente do que sinto pela sua mãe, pelos teus bisavós, minha família e meus amigos. Tem sido muito feliz, rico e gratificante te acompanhar estes teus primeiros meses de vida, mesmo com o pouco tempo que nos resta devido ao trabalho e estudos (agora mais que nunca, pois é uma garantia para nós de te garantirmos uma melhor condição), nossas (minhas e de tua mãe) alegrias e vibrações com os teus primeiros gestos, primeira mamada, primeiro sorriso... (reflexos, mas sorriso), teus movimentos em nossa procura ou busca, observar teu sono como quem assiste a um bom filme com a possibilidade de você ser assim ou assado, a alegria de saber que você é amado por nós e que alem disso você também tem toda a nossa família (avô, avós, bisavós, tios, tias, primos, primas) que também te amam e também os tios e tias aderentes que por nos termos como amigos também te querem bem. Ver-te observar cada detalhe de uma simples caixa de papelão que damos apenas para te entreter, te observar passar apontar dos teus dedinhos sobre toda e qualquer superfície com o detalhe de quem tem toda uma vida para descobrir cada detalhe de um novo e maravilhoso mundo a ser descoberto e conquistado, ver você observar com uma atenção sem igual tudo que se movimenta ao seu redor (quem dera você um dia tenha a mesma atenção em suas aulas), ver teus primeiros dentinhos nascendo, ver você dizer as primeiras palavras (papai e mamãe), ver você ter os primeiros gestos como dar tchau e pedir com a mãozinha. Fico te acompanhando, pois você já anda toda a casa e me noto fazendo algo que temo, te podar, e ao mesmo tempo temo em te deixar só e você se machucar, noto sua expressão de quem quer mais espaço e me pego pensando se já é assim como será quando você for adolescente e me vejo em você e eu ouço dentro de minha cabeça a música da Legião que diz “o que você vai ser quando você crescer”, Pois é... Cresci, e estou aqui sendo o que esperei toda a minha vida, para ser o melhor pai. E o que mais quero meu filho é ser ter AMIGO, ter em você um amigo para desabafar chorar e sorrir, sorrir muito, talvez as minhas experiências não valha para ti muita coisa, mas tenha certeza que as tuas eu terei o maior prazer de acompanhar e como dizia teu bisavô quando você ainda era um bebê ao te abençoar, passando a mão em tua cabeça: ‘João Miguel, Deus te abençoe e que você queira sempre ser um grande homem e não um homem grande”. Te amo meu filho!

Minha forma de exteriorizar a emoção do nascimento de meu primeiro filho, João Miguel Lopes - este texto foi produzido em 2003

João Lopes