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QUANDO O “MUNDO” BATE À NOSSA PORTA
Hoje quero falar sobre nós pais, que por muitas vezes, lemos “dicas de especialistas” sobre como falar ou preparar nossos filhos para as coisas do mundo. Mas, quem dará dicas ou nos preparará a nós pais para quando o mundo bater à nossa porta?
A recente tragédia na escola em Realengo/RJ levou especialistas a diversos jornais, revistas e programas de TV a darem suas “dicas” de como abordar o assunto com as crianças. Fiquei pensando: e com os pais?
Algumas inversões da natureza estão nos colocando em situações incompreensíveis: são pais enterrando os filhos e filhos mostrando o mundo aos pais.
Mas, não vou falar sobre Realengo. Muitos já o fizeram. Vou tentar falar, mesmo de forma sutil, sobre os pais. Quem nos preparará para as coisas do mundo?
Recentemente meu filho de 08 anos me abordou com a seguinte pergunta:
- “Pai, é verdade que meus presentes de natal são realmente comprados pelo senhor ou pela mamãe?” Você deve estar se perguntando como uma criança de 08 anos ainda acredita em papai Noel nos dias de hoje. Ou o que esta pergunta tola tem a ver com o caso tão grave e sério de Realengo.
Esclareço. Primeiro: decidimos, aqui em casa, que nossos filhos teriam a infância do tamanho que ela realmente é e assim mantemos algumas tradições que vão além dos brinquedos de natal, uma delas é cantarmos musicas infantis, dançar com eles e contar histórias.
Segundo, acredito que o caso de Realengo está diretamente ligado à questão familiar. À condição daqueles que estão mais próximos (pais, familiares, professores, etc.) darem o mínimo de suporte a seus filhos/alunos na difícil fase de transição da infância para a adolescência (que muitos equivocadamente chamam de aborrescência – todos um dia fomos adolescentes), até a fase adulta. Ou se não perceberem, por mínimas que sejam algumas diferenças e buscarem ou proporem ajuda e/ou acompanhamento.
Voltemos à pergunta de meu filho. Naquele momento percebi a rapidez com que o mundo veio bater à minha porta e que agora de forma tranquila eu teria que explicar ao meu filho como aquilo funcionava. Percebi que precisava aproveitar aquele momento de mudança de fase do conhecimento de meu filho. Aí me vi diante de dois caminhos: Encontrar a melhor maneira de apresentá-lo ao mundo e enfrentar a realidade com segurança ou assumir o papel de eterno protetor (ou seria covarde?) e mantê-lo no escuro e/ou na imaturidade, desnudando, assim minha própria imaturidade e negação de que há um mundo real lá fora?
Percebi que mais uma vez estava aprendendo com eles (meus filhos), pois dessa maneira também me fortaleço aos poucos para os futuros questionamentos e sustos que o mundo ainda imporá entre mim e meu filho.
Percebi também que tenho que acompanhá-los nessas mudanças e novidades do mundo para não parecer tão “das cavernas” (ao menos eu e meus pais éramos do mesmo século) quando alguns assuntos, por menores que sejam, venham à tona.
Na boa, eu meio que me entristeci e me orgulhei ao mesmo tempo. Entristeci-me de ver meu filho perdendo um encanto e me orgulhei por saber que ele entendeu bem e deu um pequeno passo à frente. São de pequenos passos que se faz uma grande caminhada.
Meus filhos e eu temos a sorte de estarmos avançando tranquilamente nesta caminhada. Os pais, os professores e as crianças sobreviventes da tragédia em Realengo não tiveram essa sorte. Foram brutalmente arremessados dentro de uma realidade para a qual nenhum de nós estava ou estará um dia preparado. Posso apenas imaginar a dor de ser arrebatado de um mundo aparentemente seguro para uma realidade tão crua.
Volto à questão anterior: Quem nos preparará a nós, os pais para um confrontamento assim tão doloroso, tão violento?
João Lopes em 20 de abril de 2011